Em mil novecentos e nove
Com a benção do Criador
Em Assaré, no Ceará
Filho de um lavrador
Vem ao mundo um menino
Que por obra do destino
Viria a ser cantador.
Antonio Gonçalves da Silva
Já com oito anos de idade
Tinha fama de violeiro
Em toda a sua cidade
Não freqüentava a escola
Nem sei se por jogar bola
Fazia gosto e vontade.
Somente aos doze anos
Foi ele alfabetizado
Até então o menino
Nunca havia estudado
Mas não chegou nem a um ano
Seis meses se não me engano
Foi o seu aprendizado.
Se o estudo não foi o bastante
Pra ele foi suficiente
Porque também precisava
Pegar duro no batente
Então comprou uma viola
Não mais voltou à escola
E tocou a vida em frente.
Foi em Belém do Pará
Numa viagem festiva
Que ganhou de um amigo
A alcunha de Patativa
E assim foi batizado
O cantador afamado
Antonio Gonçalves da Silva
Mas Patativa eram todos
Os cantadores de então
Era muita patativa
Pra o gosto do cidadão
Pra fazer a diferença
Da sua terra de nascença
Trouxe a denominação!
Patativa do Assaré
Surge pra posteridade
Com esse nome o poeta
Alcança a imortalidade
Leva ao mundo a sua mensagem
E também faz homenagem
A Assaré sua cidade.
Tempos depois Patativa
Já então um homem feito
Poeta e improvisador
E cantador por direito
Desposa a dona Belinha
Que vai ser musa e rainha
Daquele grande sujeito.
Os seus poemas transcritos
Por Jose Arraes de Alencar
Compõem o primeiro livro
Que ele vem a publicar
“Inspiração Nordestina”
Só vem confirmar sua sina
De poeta popular
Mais tarde o amigo Gonzaga
Grava “A triste Partida”
Um poema melancólico
Feito em tons de despedida
De uma família do sertão
Que sem ter agua e sem pão
Parte pra mudar de vida
Esse tema é recorrente
Nos versos de Patativa
A dor do irmão nordestino
E a sua coragem altiva
Também o descaso e a omissão
Com a gente do sertão
Que a fome torna cativa.
Mas não é só de tristeza
Que é feita a sua poesia
Ela revela beleza
Força, fé e alegria
Cântico de amor ao nordeste
Ao sertão e ao agreste
Versos de pura magia!
A lenda, o homem e o mito
O ilustre cidadão
Autodidata aclamado
Com títulos e distinção
Foi sempre simples e amável
Este poeta notável
Um gênio de pé no chão.
Sua arte é referência
Para as novas gerações
Que bebem da sua fonte
Cultivando as tradições
Repentistas, violeiros
Todos eles seus herdeiros
Da sua obra, guardiões.
Sei que não faço justiça
Ao poeta imortal
Mas por meio do cordel
A fala é mais natural
Pra Patativa no céu
Eu vou tirar o chapéu
Como o meu ponto final!
(Euripedes)
* * * * *
Faço neste cordel, uma homenagem a Antonio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, maior poeta popular do Brasil, que escolhi como meu patrono na Academia de Cultura da Bahia.
Euripedes Barbosa
* * * * * * *
Fonte:Saite Recanto das Letras
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