Quantas vezes correstes livremente
Nas campinas florida do sertãoConduzindo o vaqueiro com gibão
Num galope feliz e velozmente.
Os teus cascos trinavam reluzente
Na caatinga, grotão e pradaria,
Pra depois descansar na calmaria,
Sob a sombra dum velho juazeiro
Escutando o cantar doce e maneiro
Do concriz dando adeus ao fim do dia.
Muitas vezes vencestes as distâncias
Dando trotes sutis, bem coordenados,
E pastastes nos campos orvalhados
Vendo as águas pulsando em ressonâncias,
Teus galopes mostravam elegâncias
Conduzindo com porte algum vaqueiro
Perpassando a jurema e o marmeleiro
Sem temer da caatinga algum perigo
Protegendo no lombo o teu amigo
No trabalho mostravas ser parceiro.
Pelos campos tangestes mil boiadas
Sempre atento à fuga do novilho
Escutando o aboio como um trilho
E vencendo as estradas alagadas.
Hoje a seca, com garras afiadas,
Faz teu corpo sofre desnutrição
O fantasma da fome com agressão
Diminui o viver, rouba a esperança,
Qualquer passo teu corpo logo cansa
Numa cena repleta de aflição.
Sempre em vão a procura do alimento
Muito mal tu consegues caminhar
Pois parece que o corpo vai tombar
Num viver tão repleto de tormento.
O teu corpo revela o sofrimento
Nas agruras da fome causticante
A passada te faz cambaleante
Demonstrando decrépita magreza
Pois a morte parece ser certeza
Sobre um corpo que já foi elegante.
Postado por Gilmar Leite
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