terça-feira, 14 de maio de 2013

O Matuto e a Internet




Zé de Dona quiterinha
Era um cabra amatutado
As viagens que ele tinha
 Restringia-se Ao roçado
Cabra forte de coragem
Eu guardava a sua imagem
Dos tempos que longe vão
Falava errado talvez
Porque pobre não tem vez
Nem tempo pra educação.
Fazia mais de seis anos
Que eu não tinha visto Zé
Foi então que fiz
 os planos de velo
E com muita fé parti
 para o meu sertão
na minha imaginação
lembrei de Zé no passado
cabra matuto de pia
eu nunca imaginaria
 que José tinha mudado.
a viajem foi ligeira
cheguei aqui a tardinha
e fui em toda carreira
pra casa de quiterinha
chamei mas ninguém
ouviu chamei de novo
E saiu quitera e sua bondade
que mim abraçou dando um laço
mantando nun só abraço
 Seis anos de saudade
Quitéria foi mim falando
Que Zé tava no roçado
Que logo ia voltar
Depois de trancar o gado
E a te ai tudo igual
Dona Quitéria normal
Zé trabalhando na roça
Fiquei ali como estava
Quando eu menos esperava
Escuto aquela voz grossa
Era Zé, meu grande amigo
A mesma aparência rude
Daquele jose antigo
Dos nossos banhos de açude
O mesmo palavreado
Com o seu português errado
Assassinado o plural
Em vez das vacas, as vaca
Em vez das facas, as faca
E até ai tudo igual
E a gente foi coversando
Recordando as alegrias
Depois fiquei declamando
Para Zé algumas poesias
Que de tanto ele gostar
Pediu para eu mandar
Os versos desde o começo
E eu lhe disse sem rodeio
Vou mandar pelos correio
Dite ai seu endereço
Foi então que percebi
 Que José tinha mudado
A primeira vez que eu vi
Um matuto informatizado
Zé disse pra quer correio
Repasse pra o meu email
Que ele chega sem demora
Hoje ninguém vive sem
E se você ainda não tem
Crie que já passou da hora
Fiquei de queixo caído
E disse pronto danôce
Se o mundo tava perdido
Com essa acaboce
Mas Zé ficou todo serio
 E disse Qual o mistério
Mudando da voz o tom
Anote sem oba oba
Zé de quiterinha arroba
Hotmail ponto com.;
E disse as coisas de lá
Por aqui já repercute
Se quizer é so mandar
Os versos pro meu orkute
Que eu vou na lan house
De baixo pego meu pen driver
E encaixo na entrada USB
Armazeno os verso seu
Depois repasso pro meu
Notebook e vou só Ler.
 Eu fiquei bestificado
Não entende quase nada
Fiquei todo envergonhado
Mas com a boca calada
Deixei Zé continuar
Que danoce a falar
Num tal de twiter
Que eu nem sei o que significado
Mas Zé falou de voz rica
Hoje todo mundo tem.
Ai eu pensei mais
É danado José erra o português
Mas fala todo acertado
Pronunciando o inglês
Falou num blog que tinha
E ai dona quiterinha falou
Vê se não esquece.
Entre no Google e na linha
Bote Zé de quiterinha
Clique no link e acesse
Pensei com migo já visse
Que veinha mais danada
Mas dessa vez nada disse
Mantive a boca calada
E Quitéria indagou solene
Tu tens MSN?
O meu o meu e fácil não erre
Mim adicione no seu hol.
Quiterinha arroba bol
Ponto com ponto BR.
Eu fiquei todo perdido
No mundo informatizado
Mim achava muito sabido
Mim senti todo humilhado
Pensei que as modernidades
Vinha ser em grandes cidades
Preconceito besta o meu
Fui mim borá do sertão
Mas fui com a convicção
De que o matuto sou eu

(Vinicius Gregório)

Um comentário:

  1. O POETA ISMAEL PEREIRA A QUE SE REFERE AO SIGNIFICADO, É O POETA ISMAEL PEREIRA DO CEARÁ, QUE ESTÁ EM PLENA EVIDÊNCIA, OK? ISSO PARA DEIXAR CLARO! MESMO TENDO TODA ADMIRAÇÃO PELO QUE ERA DO PE. ABRAÇOS, LUIS CARLOS, LAVRAS DA MANGABEIRA, CE

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