quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Cordel: A doença do rico é a saúde do pobre


Jota Rodrigues


Ou senhora Aparecida
Santa padroeira nodre
Abençoai este livro
Que minha pena descobre
Sobre a doença do rico
Ou a saúde do pobre

A vinte e três de setembro

Linha manhã domingueira
O poeta Zé Rodrigues
Vendendo cordel na feira
Teve atenção despertada
Com uma visita hospitaleira

Era o douto Hézio Cordeiro

Com um outro médico ao seu lado
E uma senhora distinta
Com os anéis de doutorado
E os três procurava xilos
Grande em canudo enrolado

E não tendo a xilogravura

Que o dotô Hézio pedia
Zé Rodrigues prometeu
Que de São Paulo trazia
Sem prazo estipulado
podendo ser qualquer dia

E na noite de São Cristóvão

Numa palestra sadia
Muito respeitosamente
O doutor Hézio pedia
Que Zé Rodrigue escrevesse
Dois livros com primazia

E com muito zelo e carinho

Escrevo este primeiro
Ilustro o pobre e o rico
Por sorriso e desespero
E ofereço aos meu leitores
E ao doutor Hézio Cordeiro

Neste verso começamos

A pequena discrição
Quando eu na maternidade
Fui visitar dois pagão
Um era filho de um rico
E o outro de um pobretão

O filho do rico estava

Com manta e enxoval bordado
Trancelim de ouro fino
Sapatinhos prateado
Num berço chique e elegante
E seis enfermeiras de lado

O filho do pobre estava

Numa grade de madeira
Sem manto e enxoval
Sem sapato ou enfermeira
Sem bico e sem trancelim
Na mais profunda berreira

Chegando o médico parteiro

Deu alta às duas mulher
A mulher do rico foi
Pra São Francisco Xavier
E a mulher do pobre foi
Pra favela do Jacaré

Chegou a mulher do rico

Na sua rica mansão
E depressa duas babá
Correro para o portão
Pra receber o garoto
Filho do rico patrão

E na casa da mulher rica

As coisas muda de tom
Tem leite materno forte
Aveia e ninho do bom
Tem canjinha de legume
Tem tôd e leite elêdon

O menino pobre tem

Mingau de fubá cozido
Sem leite tôd ou aveia
Aguado e sempre dormido
E até sem leite materno
Que o da mamãe foi sumido

O filho rico tem berço

Pijaminha e mosquiteiro
Tem ar condicionado
pra soprale o dia inteiro
Não panha sol nem sereno
Nem brinca pelos terreiro

O menino pobre tem

Shortinho e cueiro rasgado
Sem pijama ou mosquiteiro
Nem ar condicionado
Por berço tem o chão frio
E coberta é saco emendado

Cria-se o menino rico

Com maiores regalia
Não toma banho na chuva
Não pisa em terra fria
Não pode apanhar poeira
Porque sofre de elegia

Cria se o menino pobre

Dormindo pelas calçada
Tomando banho na poeira
E nas valas enlamaçada
Papando barro e tijolo
E a barriga toda inchada

Aos vinte anos de idade

O menino rico é rapaz
E pra conservar a saúde
As previdências é demais
Não bebe água de poço
E pisar descalço jamais

Enquanto o menino pobre

Já tem os pés calejado
Pisando em caco de vidro
Pregos ou arame enfarpado
Bebe água até de vala
E tem saúde e é corado

O menino pobre anda

Descalço sujo e rasgado
Panha chuva noite inteira
Passa um sufoco danado
E não sente dor nem canseira
Pois já tem o lombo curado.

Se o rico apanha uma chuva

Sofre o maior desmantelo
Dói ouvido, dói garganta
Dói cabeça e cotovelo
Tem febre e um suor frio
Em cada fio de cabelo

O pobre dorme em chão frio

Nas gigantes construção
Panha chuva noite e dia
Entre relâmpago e trovão
Faz pernoite nas calçada
E tem saúde de um leão

Se o rico pega uma gripe

E solta um espirro forte
Recolhe-se ao seu leito
Se maldizendo da sorte
Consulta com o médico e diz
Que esta na hora da morte

O rico quase todo dia

Mede a sua pressão
Vai ao cardiologista
Examina o coração
Mas qualquer dor de barriga
O tira de circulação

O pobre já nem si lembra

Da barriga ou coração
Suas massage é nos trens
De Japeri ou Barao
E sua cardiologia
É os chute na condução

O rico sem fazer nada

Sente dor, sente cansaço
Sente moleza no corpo
Sente fraqueza nos braço
Sente desânimo e preguiça
Sente-se em si um fracasso

O pobre não sente nada

Pois o seu tempo não dá
Para preguiça ou cansaço
Em seu corpo penetrar
Tão grande é seu sofrimento
Que isto não o faz abalar

Um rico encontra com outro

E vai logo perguntando
Como vamos de saúde
E responde o outro chorando
Estou com uma dor de cabeça
E a morte esta me chamando

Um pobre encontra com outro

Morrendo a fome e doente
Já pergunta como vai
O outro responde soridente
Sou cheio de vida e saúde
Esconde as dores que sente

Resumo neste livrinho

O tratado verdadeiro
Dos males do rico e o pobre
Reconhecendo o primeiro
Ilustríssimo doutor
Grande homem que me inspire
O nobre Hézio Cordeiro

O livro está terminado

Levem um pra me ajudar
Isto servirá de exemplo
Veja o luxo o que é que dá
Eu sou um pobre também
Rolo no chão e nada vem
A minha saúde abalar
Fonte: Blog Poeta Léo Medeiros

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